É difícil manter-se sensato quando sopra o vento da paixão. O País hoje vive um desses momentos. A corrida presidencial, mesmo antes de se iniciar oficialmente, já vinha provocando estremecimentos na sociedade brasileira. A partir de agora, com a efervescência das redes sociais replicando informações e fake news, o início da temporada de debates, propaganda ostensiva e comícios elevam a temperatura e dividem ainda mais as opiniões.
Tudo isso faz parte do jogo democrático. Contudo, como há muitos ideológicos a econômicos, é fácil resvalar para a radicalização. E isso é um perigo, pois a ambição pelo poder, que tem sido uma atração irresistível para a humanidade desde os tempos mais remotos, pode ser desastrosa. Sofrimentos inenarráveis decorreram dessa ambição, muitas vezes, iniciada timidamente, mas tornando-se incontrolável e avassaladora com o tempo.
Se toda guerra é a expressão plena do horror, a luta fratricida é ainda mais horrível. Não é preciso lembrar a antiguidade, como a Bíblia narrando as lutas no seio da família de Davi, ou com Tito Lívio acompanhando, passo a passo, a luta de classes na sociedade romana, ou Tucídides mostrando os gregos se matando por anos a fio.
Os alunos, até hoje, ao estudar História, ficam perplexos com o banho de sangue ocorrido na Revolução Francesa, que mudou o mundo ocidental, ou com a Guerra da Secessão nos USA, que ceifou cerca de um milhão de vidas de norte-americanos. Na Espanha, a polarização esquerda-direita precipitou o país, em 1936, numa guerra civil que durou três anos e matou mais de meio milhão de espanhóis.
Coreia dividida até hoje, Vietnã do Norte e do Sul engalfinhando-se em luta mortal por anos, líderes cambojanos exterminando populações inteiras de seus próprios compatriotas: poder e ideologia combinados para causar dano e sofrimento. Mais recentemente, vimos o esfacelamento da Iugoslávia provocando lutas internas de consequências terríveis, envolvendo sérvios, bósnios e croatas. E as legiões de refugiados sírios atestam, com seu sofrimento comovente exposto na mídia, como um país pode ser tragado pelo caos quando facções rivais se deixam levar pela paixão extremada.
Nesse momento de acirramento político no Brasil, é sempre bom debruçarmo-nos sobre os exemplos de outras nações, a fim de evitar os mesmos erros. A polarização ideológica pode levar a confrontos cujas consequências são imprevisíveis. Como muitos países, temos sérios problemas as resolver, envolvendo a busca por uma maior justiça social, melhor distribuição de riquezas, melhor educação, saúde e mais efetiva segurança.
Contudo, não existem soluções simplistas para problemas tão graves. Foi a ilusão de ter as dificuldades resolvidas por um líder carismático que possibilitou o surgimento de Hitler, que mergulhou o mundo na mais espantosa e terrível guerra de todos os tempos.
Em tempo de emoção e paixão política, é sempre bom ponderar e refletir com clareza. Não deixa de ser admirável, por exemplo, que o Brasil tenha se mantido um gigante territorial, enquanto a América espanhola se fragmentou tanto, desde a conquista e a colonização.Talvez isso nos ajude a perceber que somos um povo que, apesar de tantas desigualdades e carências, tantas diversidades regionais e subdialetais, ainda se mantém significativamente unido. Certamente, ainda hoje, é motivo de grande esperança podermos constatar que aquilo que nos une ainda é muito maior do que o que nos separa.
* Artigo publicado no caderno Opinião, no Jornal Estado de Minas, em 27 de setembro de 2018.
Caro Diretor Eldo, parabéns pelo artigo, pelas colocações. Através dele vivenciei resumidamente boa parte da história mundial retratado com poucas palavras as sangrentas disputas ente nações e povos com pensamentos ideológicos divergentes. Se me permite; um dia li que confrontos, guerras, conflitos… em muitas vezes eram mais do que necessários. Eram a única forma de mudança real física e de fato, além da ideológica. Cuba é uma nação que deveria se unir. Como Vc mesmo retratou, “Contudo, não existem soluções simplistas para problemas tão graves”. Percebi que as Guerras por mais que crueis não escondiam que deveriam acontecer e, talvez não haja mais ao que recorrer no nosso País. Os Estados Unidos, por ex, nos enviou por doação centenas de tanques de guerra nos últimos dois anos e este mês outra remessa…acho que já era previsto tal situação.
Gostei muito do seu artigo. Parabéns
Sou verde amarelo e Deus acima de todos.
Celio Márcio Magalhães
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Celio, boa tarde.
Obrigado pela contribuição.
Não desconsidero o papel das guerras e dos conflitos.
No artigo tento ressaltar a origem dos mesmos que ocorre, na maiorias das vezes, devido a ambição pelo poder.
Um abraço,
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Antônio, bom dia.
Obrigado pelo excelente comentário.
Mais do que um comentário, foi um complemento ao artigo.
Um abraço,
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Bom dia, professor!
Antes de começar meus comentários, gostaria de dizer que a data presente no * está errada.
Bem, uma coisa boa que podemos tirar desse clima é que não há muito tempo atrás falava se que éramos alienados políticos. Bom que as ruas voltaram a ser tomadas, que a internet também está sendo usada para espaço de debate.
Enfim, em nossa jovem democracia é muito saudável esse momento, que possamos dialogar e pensar em formas de avançar.
Contudo, é necessário muita busca e ponderação para buscar a informação corretamente, fugir do fake news e o que é pior da fake history…
Tanto de nós quanto dos candidatos a cargos políticos deve ter essa sabedoria e ponderação em propor e debater mais do que criticar o outro.
Realmente a expansão territorial que o Brasil teve desde a divisão no Tratado de Tordesilhas até as disputas territoriais ganhas com maestria, estudo e diplomacia pelo Barão do Rio Branco no início do século XX mostra que somos um povo capaz e muito forte e não somos piores que os europeus, muito menos dos norte-americanos.
Essas brigas e discussões mostram que não somos um povo tão apático, pacífico e cordial como era falado há uns anos…. pois se nossa própria independência tiveram lutas e guerras (tanto que a Bahia ficou independente dois anos depois, em 2 de julho), nossa história é permeada de conflitos, sangue e guerra e também de salvadores da pátria…. desde o sumiço do rei Dom Sebastião na África, criou se a lenda de sua volta e que ela traria a glória, pois bem, essa lenda persiste no Brasil porque enquanto brigamos para saber qual pessoa é melhor para ser governador ou presidente, pouco nos importamos para os cargos de deputado (estadual e federal) e senadores…..
Não temos vermelho na nossa bandeira, verdade, mas esta cor não significa comunismo (com exceção dos países comunistas), como é dito em algumas rodas de conversa, é o sangue dos que lutaram nas guerras de independência….mas há vermelho no nosso nome Brasil, derivado do pau-brasil, que extraem pigmentos de cor vermelha, como brasa…..
Este ano que lembremos que na frase positivista de nossa bandeira (ordem e progresso) tem também o amor.
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