A história da humanidade é também a história do embate entre o egoísmo e o interesse coletivo. O instinto de conservação faz com que as pessoas pensem, primeiramente, em si mesmas e na sua família quando se trata de assegurar sua sobrevivência. Sendo assim, o egoísmo revela-se como um impulso importante para a sobrevivência do indivíduo em qualquer sociedade.
Contudo, isolado em um mundo que pode, com frequência, ser hostil e ameaçador, o indivíduo necessita fortalecer-se por meio do agrupamento social. Assim, estabelecem-se regras que tornam possível que o interesse coletivo dome as tendências egoístas das pessoas que precisam conviver em sociedade.
Ao afirmar a importância do outro, contrapondo-se aos interesses pessoais imediatos, as sociedades evoluem, substituindo o embate entre os egos, que pode ser perigosamente destrutivo, pela harmonia social, que torna possível o desenvolvimento humano. Leis e prescrições morais e éticas procuram assegurar essa convivência e alavancar a civilização.
No Brasil, é muito comum citar exemplos de respeito às leis nos países mais desenvolvidos, em oposição a decadência que se verifica frequentemente por aqui. Seriam os suíços, os japoneses, os alemães e os norte-americanos mais educados, no respeito ao outro e, portanto, menos egoístas, que os brasileiros?
Evidentemente, não. O que ocorre é que, nesses países, o descumprimento das leis implica penalidades rápidas e efetivamente aplicadas, gerando um temor que acabou por gerar uma cultura de respeito às prescrições. Contudo, em situações em que a lei torna-se difícil de ser aplicada, verificam-se ocorrências lamentáveis também nesses lugares.
Quem não viu cenas de saques em massa a lojas e supermercados nos USA, quando, eventualmente, ocorrem black-outs? Muitos se surpreenderam pelo mundo afora com a grande ocorrência de ataques sexuais em Nova Orleans, quando o furacão Katrina tornou caótica a situação naquela cidade.
Situações extremas acabam revelando o lado sombrio e instintivo de nossa natureza, mesmo quando parece que nossos instintos estão domados. A desumanidade propagada pela Alemanha e pelo Japão, durante a Segunda Guerra, fazem-nos desconfiar de que o tão falado grau de civilização alcançado por esses países não passa de um verniz, que pode desaparecer rapidamente quando as situações se radicalizam. Quanto à Suíça, não tem sido ela a fechar os olhos, por anos, a recursos suspeitos, escondidos em seus cofres por gente dos mais diversos países?
Sem dúvida, a humanidade tem evoluído significativamente, buscando soluções para tornar possível a convivência social, sempre ameaçada por nossos impulsos egoístas. Os próprios direitos humanos nasceram motivados por esse esforço. Nesse contexto, destaca-se o cristianismo, que vem alertando, há mais de vinte séculos, para a importância não só do respeito ao outro, mas, mais do que isso, para nosso dever de amar o próximo.
Esse amor é que pode, verdadeiramente, domar nossos instintos egoístas e conduzir a civilização a um estágio superior de real e estável convivência harmônica. Nesse contexto, o progresso tecnológico, que tornou possível a diluição das fronteiras e a comunicação instantânea entre as pessoas, poderá tornar-se um importante recurso para aproximá-las ainda mais, em vez de tornar-se uma ferramenta para estimular seu egoísmo, como vem ocorrendo com frequência alarmante.
Bom dia, professor!
Algumas observações:
– Interessante citar esses exemplos mundiais porque em nosso país adoramos falar mal do brasileiro (a), pra mim é o verdadeiro esporte nacional, já nos damos um destino de eterno “vira lata” (famoso ‘complexo’ criado pelo jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues). Importante frisar isso, ser humano é igual em todo lugar do mundo, e que precisamos de governo, de leis e de formas que esta seja cumprida.
– Desde a invenção do fogo e da roda, a tecnologia nos permitiu melhorar e desenvolver até o estágio em que estamos hoje, mas será que conseguimos melhorar em essência? Importante questionamento… conseguimos sair das cavernas para as grandes cidades, mas será que temos um senso de comunidade como havia nos primórdios da humanidade? Quando éramos frágeis e estávamos cercados por uma natureza hostil, um protegia e respeitava o outro, havia famílias que se juntavam em prol de uma família maior que é a tribo. Será que conseguimos manter essa ética do bem maior ou é a ética do egoísmo?
– As religiões são importantes porque nos fazem conectar a esse bem maior. Religião que vem de religare, religar, reconectar, saber que eu sou uno, único e especial, mas que sou parte de uma comunidade, não sou uma ilha, isolado, nunca fui…nasci de uma mulher, fui cuidado por ela e por uma família e comunidade, fui pra escola, universidade. Infelizmente quando crescemos, muitos se esquecem disso e se fecham em sua bolha em demasia. Egoísmo em certa dose é benéfico (como tudo na vida), ele que faz a gente caminhar, mas deve ser dosado senão deixamos de ver o próximo ou próxima que precisa de ajuda, mas tratá-lo sempre enquanto igual, nunca como inferior ou “coitadinho”.
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Eugênio.
Obrigado e parabéns pela riqueza do seu comentário.
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