É próximo à desolação o sentimento despertado em mim por comentários de alunos, inspirados no noticiário político divulgado pela mídia diariamente. Vejo estudantes idealistas com a fisionomia transformada pela preocupação ao analisarem as declarações e atitudes de nossos representantes no poder legislativo e executivo. Isso me preocupa, pois, as consequências negativas do comportamento de nossos políticos exercem e exercerão influência na formação de milhões de crianças e jovens em todo o País.
Nas salas, os professores percebem atitudes semelhantes por parte dos adolescentes, que são praticamente unânimes em qualificar os políticos, em geral, como pessoas não idôneas. Assim, o discurso que ouvem nas aulas, dando ênfase à responsabilidade que os eleitores devem ter ao eleger seus representantes, acaba esvaziando-se tristemente, pois os alunos argumentam que não adianta querer separar o joio do trigo na hora de votar: a realidade demonstra que só há, praticamente, joio.
Desse modo, não só a descrença generalizada em relação aos políticos, mas, ainda mais grave, a identificação dessa classe com o comportamento antiético e corrupto, gera o sentimento de que as instituições brasileiras são pouco confiáveis. O maior temor dos educadores é que essas novas gerações acabem por descrer de princípios e valores fundamentais, sem os quais uma sociedade civilizada não pode subsistir.
Numa época em que até crianças dispõem de comunicação instantânea em seus celulares e tablets, alunos já me procuraram algumas vezes para comentar vídeos que trocam entre si, mostrando políticos e autoridades de outros países indo trabalhar de bicicleta, morando em apartamentos ou casas simples, cultivando hábitos modestos, recebendo vencimentos próximos aos de grande parte da população. A realidade bem diferente que se verifica no Brasil, onde políticos e autoridades dispõem de carros oficiais e motoristas pagos com o dinheiro dos contribuintes, viajam em jatos exclusivos, ostentam luxo, criam leis que lhes concedem privilégios vergonhosos, enquanto a maioria da população enfrenta, dia a dia, as maiores dificuldades na dura batalha pela sobrevivência, deixa-os indignados.
Essa desilusão tão precoce não pode ser benéfica para estudantes tão jovens, pois é próprio da sua idade exatamente o oposto: o idealismo e a inquietude, que as boas escolas procuram canalizar positivamente, a fim levá-los a exercer, no futuro próximo, o importante papel de transformadores da sociedade.
Assim, é inegável que cabe às escolas assumir também a missão de ajudar os pais a educar as crianças e jovens que lhes são confiadas, promovendo ações que visem também à educação política dos alunos. Os estudantes brasileiros precisam conscientizar-se de que a política é um importante avanço na história da humanidade, a ponto de filósofos terem dedicado a ela estudos até hoje de grande relevância. Aristóteles, há mais de 2.300 anos, já havia ensinado: “O homem é um animal político”. Seu contemporâneo Platão, escreveu o conhecidíssimo livro “A República”, que continua sendo lido e estudado até a atualidade.
Desse modo, penso que as escolas podem contribuir significativamente para mudar o desolador quadro da política brasileira. Ações aparentemente corriqueiras, como a escolha de representantes de turma e a interação dos colegas com eles na vivência escolar, podem dar oportunidade de se vivenciar uma prática democrática relevante para a formação política de crianças e adolescentes. O mesmo se aplica à eleição e atuação dos grêmios estudantis, sempre uma oportunidade não só de formar lideranças, mas também de despertar a consciência da importância das escolhas que o voto individual possibilita.
Deve-se considerar que, hoje, a escola assume uma nova configuração. Ao privilegiar o raciocínio e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, a escola pode dar atenção a atividades que visam incrementar ações relevantes para a formação de atitudes que interferirão positivamente no comportamento interpessoal. Isso poderá contribuir para formar, nas novas gerações, uma consciência política que deletará o atual modelo, motivo de constrangimento nacional e exposição negativa internacional.
- Artigo originalmente publicado no caderno Opinião, do jornal Estado de Minas, em 10 de agosto de 2017.
Sim, vivemos uma geração mais pragmática que a dos anos 60 e 70, já ouvi alguém falar que não vivemos uma época de mudança como aquela das gerações de nossos pais mas sim uma mudança de época, e isso deve ser falado e repetido em sala de aula: a mudança é permanente e devemos ser a mudança que queremos na sociedade, e que o processo é lento e gradual. Ainda mais se tratando de Brasil, deve-se frisar que a crise política não é de agora, quando começa-se a estudar a história de Portugal e chegando aos dias de hoje percebemos em nós traços de autoritarismo, de desmandos e nepotismos vindos de nossos paizinhos portugueses e que ainda existem em nossa sociedade. E lembrar que o Brasil está inserido no mundo e este passa por uma crise e mudanças e devemos buscar a melhor solução para nós, não copiando modelos estrangeiros e sim buscar algo que seja genuíno de nós, um país miscigenado, contraditório e mesmo assim único, como disse Darcy Ribeiro no final de “O Povo Brasileiro”: “…o que somos é a nova Roma. Uma Roma tardia e tropical…Estamos nos construindo na luta para florescer amanhã como uma nova civilização, mestiça e tropical, orgulhosa de si mesma. Mais alegre, porque mais sofrida. Melhor, porque incorpora em si mais humanidades. Mais generosa, porque aberta à convivência com todas as raças e todas as culturas e porque assentada na mais bela e luminosa província da Terra.”
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Sensacional este Artigo. Comungo dos mesmos ideais de Esperança de que a Escola e à Família juntos podem contribuir sim na educação política de nossos jovens. Criss Magalhães -Economista e Mãe da Livia 2PA
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Obrigado Criss.
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